Em dezembro de 2019 foi reconhecida uma nova doença causada por um coronavírus (Sars-Cov-2), na China. Batizada de covid-19, se espalhou pelo mundo e, em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia. Os países adotaram medidas sanitárias, umas mais outras menos rigorosas, que não impediram a saturação dos sistemas de saúde. Só o Brasil, no final de janeiro de 2021, totalizava mais de 220 mil mortes confirmadas.
Além das medidas sanitárias foi necessário fechar escolas, bibliotecas, locais de trabalho, cancelar eventos coletivos, restringir aglomerações; enquanto cientistas do mundo todo trabalhavam febrilmente para criar vacinas que combatessem o novo mal. Para manter as coisas funcionando milhões de trabalhadores e estudantes foram forçados a trabalhar a partir de suas casas. Isso reforçou a importância da Internet como infraestrutura fundamental de qualquer país.
No caso das escolas públicas, o início do ano letivo de 2020 foi atrasado para que os órgãos responsáveis disponibilizassem alternativas para alunos e professores. Não havia outro caminho que não a Educação à Distância - EaD. Passado o ano de 2020, podemos enumerar alguns dos problemas enfrentados:
Os professores precisaram ter computador em casa, com câmera e microfone, além de internet banda larga.
Os professores precisaram ser treinados para usar recursos como o Google Classroom ou Zoom para montarem suas aulas, o que pode ter sido difícil para alguns.
Forçados a permanecer em casa, os professores nem sempre contavam com um ambiente livre de interrupções para ministrar suas aulas.
Pelo lado dos alunos, aqueles de famílias pouco favorecidas foram os mais prejudicados.
Matéria divulgada pela Agência Brasil EBC em julho de 2018 afirma que 70% dos domicílios das classes D e E não tem acesso à Internet.
Não há computadores em quantidade suficiente.
O preço da Internet de banda larga é alto diante da baixa renda da população.
Aqueles que possuem apenas telefone celular são obrigados a assistir as aulas numa telinha minúscula.
Famílias com filhos cursando séries diferentes precisaram compartilhar um ou poucos celulares para assistir aulas que muitas vezes aconteciam no mesmo horário.
Mais ou menos metade das linhas de telefonia celular no Brasil estão sob planos pré-pagos, ou seja, esgotado o crédito, o cliente é obrigado a fazer uma recarga.
Muitos alunos e pais se queixaram da qualidade das aulas online.
As dificuldades recorrentes estimularam a desistência dos alunos em comparecer às aulas. Pesquisa de opinião do Sindicato dos Professores do DF, realizada entre os dias 21 e 31 de maio de 2020, com mães, pais e responsáveis por estudantes da rede pública, revela que 57,90% (265 mil) dos 460 mil estudantes da escola pública não assistiram a nenhuma teleaula disponibilizada pela programação da Secretaria de Estado da Educação do DF.
Provas e trabalhos feitos à distância não alcançaram seus objetivos porque a grande maioria dos alunos obtém as respostas na Internet e compartilham com os colegas, sem precisarem estudar. O site www.brainly.com.br é um exemplo: se bem usado é um recurso valioso de estudo, se mal usado (a norma) é um estímulo à preguiça.
Os alunos da rede privada, mais favorecidos socialmente, tiveram um pouco mais de sorte. Mas sem dúvida, durante a pandemia aumentaram as desigualdades sociais.
As vacinas começaram a ser disponibilizadas no Brasil no final de janeiro de 2021. Dependendo da velocidade com que se conseguir vacinar a população, talvez voltemos à normalidade até o final de 2021, quando teremos a reabertura das escolas e a volta das aulas presenciais.
Por outro lado, a pandemia trouxe lições valiosas que devem ser continuadas. Os professores tiveram que estudar para fazer frente às novas exigências, precisaram pesquisar na Internet para repassar aos alunos, ganharam experiência etc. As aulas gravadas que podem ser assistidas várias vezes representam uma facilidade que veio para ficar. A riqueza e a quantidade de recursos disponíveis na Internet deu uma dimensão ao ato de estudar que não era sequer sonhada pelas gerações de estudantes do século XX. Hoje é possível estudar à distância nas melhores universidades do mundo e ter acesso a conhecimento do mais alto nível. O estudante do século XXI ganhou liberdade - não precisa mais se prender às limitações da sua escola. E aqui ganha ainda mais relevância o papel do professor, não como dono da verdade mas como facilitador da jornada de seus alunos rumo ao esclarecimento.
Para nós do IPECE-BR, toda essa conjuntura reforçou nossa convicção na importância da biblioteca intimamente ligada à sala de aula. E como os professores (que fazem toda a diferença), treinados no seu uso, são importantes na formação de seus alunos.
Além dos cursos de formação em biblioteca escolar (clique aqui) voltado para professores e biblioteca pública (clique aqui) que o IPECE-BR desenvolveu e aplica com sucesso ao longo dos anos, a iniciativa de criar a REDE BIBLIOTECA EM AÇÃO (RBA) busca avançar ainda mais, experimentando no âmbito da cooperação entre as mais diversas bibliotecas. Há muitos heróis e heroínas anônimos cujas contribuições serão ainda maiores se forem divulgadas e compartilhadas.